Uma reflexão sobre o novo urbanismo

O “Novo Urbanismo” é o termo da moda nas imobiliárias que trabalham com empreendimentos de porte ou loteamentos. Apesar de já não ser mais tão novo, afinal o termo remete a um movimento surgido nos Estados Unidos ainda na década de 80, o tal “Novo Urbanismo” vem se popularizando nas rodas de debate entre arquitetos e urbanistas, mas vem também sendo banalizado nas campanhas dos criativos redatores de agências de publicidade e na boca dos incansáveis corretores de imóveis. É a “Sacada Gourmet” da vez!!

O urbanismo, de certa forma, nasceu junto com as primeiras cidades. Desde que começamos a construir com propósitos de hierarquia e planejamento, como, por exemplo, as Acrópoles na Grécia, que carregavam um simbolismo, ou igrejas e palácios construídos junto à cursos d’água ou sob a proteção de alguma muralha. Por mais óbvios ou primários que sejam, estes movimentos são princípios de planejamento urbano. Assim construímos nossas cidades e cada período da história contribuiu com a sua lógica de planejamento, própria dos problemas de cada época.

Entretanto, foi apenas a partir da metade do século 19 que os primeiros movimentos de planejamento urbano como conhecemos hoje foram aplicados. Os planos Cerdá de Barcelona e Haussman em Paris foram pioneiros em traçar planos de ocupação e de crescimento para as cidades levando em consideração diferentes aspectos das necessidades cotidianas, como salubridade e mobilidade, criando regulação para altura de prédios, configuração de quadras, largura de ruas, além da implantação de galerias de esgoto, de praças e de transporte coletivo como os metrôs.

De lá pra cá o planejamento urbano ganhou espaço, valor e adeptos. Tornou-se tema recorrente entre intelectuais e estudiosos influentes. Surgiram diferentes escolas e correntes que contribuíram para transformar, por completo, a maior parte das cidades em que vivemos e conhecemos.

O planejamento urbano tornou-se vital para o crescimento das cidades, e, embora seja algo que interfira na forma como todos nós nos relacionamos com ela, até pouco tempo atrás era tratado como uma disciplina inacessível, fosse pela escala, fosse pela complexidade.

De fato, o tema possui um grau considerável de complexidade pelo aspecto multidisciplinar que ele demanda e pelo potencial de impacto que as ações podem representar na vida da população, porém, a revolução digital e a as novas formas de economia vem transformando a maneira como as pessoas se relacionam com as cidades e o urbanismo está deixando de ser atribuição exclusiva de arquitetos, urbanistas e estudiosos, pra ser objeto de discussão da sociedade. A maior prova disso são as frequentes iniciativas particulares nos mais variados aspectos que influenciam no cotidiano das cidades.

A tecnologia permite que a iniciativa privada possa exercer papel cada vez mais relevante em aspectos como de mobilidade, por exemplo, com a criação de soluções como Uber, BikePoa, Yellow, carros autônomos e etc. O Airbnb, o Skype e a economia compartilhada no geral nos trazem novas formas de se relacionar com a hotelaria, moradia, trabalho e comércio.

A cada novo avanço tecnológico surge uma potencial transformação na forma de interação das pessoas com as cidades e de descentralização das ações de grande impacto do estado para a população.

Precisamos entender que o urbanismo deixou de ser uma disciplina exclusivamente voltada à elaboração de planos e regulação dos projetos de ruas, quadras e edificações (quando muito).

O Novo Urbanismo, aquele que vem sendo banalizado como argumento de venda pelas agências de marketing, vem ganhando um novo aspecto que é a relação dinâmica e transformadora que a tecnologia promove na interação entre as pessoas e as cidades. Este Novo Urbanismo precisa ser pensado de maneira ampla e levar em consideração as novas (e o mais difícil, as futuras) soluções que tem o potencial de transformar nossos hábitos. O desafio é entender como estas transformações irão afetar as necessidades das pessoas que vivem nas cidades para se pensar em um planejamento de longo prazo que seja eficiente.

Fernando Maia | AsBEA-RS

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